A recente crise energética em São Paulo, com apagões que se estendem por mais de 70 horas, expõe as consequências problemáticas da privatização de serviços públicos essenciais. O caso da Enel, empresa que assumiu a distribuição de energia na região metropolitana de São Paulo em 2018, serve como um estudo de caso alarmante sobre como a busca por lucro pode comprometer a qualidade e a confiabilidade de serviços fundamentais.
1. Redução Drástica de Funcionários:
Após a privatização, a Enel implementou uma política de redução de custos que resultou em demissões em massa. Segundo relatos sindicais, houve uma redução de mais de 30% no quadro de funcionários, principalmente entre os trabalhadores mais experientes. Essa medida afetou diretamente a capacidade de resposta da empresa em situações de emergência, como a atual.
2. Aumento das Tarifas:
Contrariando as promessas de eficiência e redução de custos que geralmente acompanham os processos de privatização, os consumidores de São Paulo enfrentaram aumentos significativos nas tarifas de energia. Este aumento ocorreu simultaneamente à redução de investimentos em infraestrutura e manutenção.
3. Distribuição de Dividendos vs. Investimento em Infraestrutura:
Enquanto a qualidade do serviço se deteriorava, a Enel reportou lucros expressivos. Em 2023, a empresa anunciou um lucro líquido de 3,44 bilhões de Euros, mais que dobrando o resultado do ano anterior. Grande parte desse lucro foi distribuída como dividendos para investidores estrangeiros, em detrimento de investimentos necessários na rede elétrica local.
4. Precarização do Atendimento:
A terceirização de serviços essenciais levou a uma queda na qualidade do atendimento. Trabalhadores contratados por empresas terceirizadas frequentemente não recebem treinamento adequado, comprometendo a eficiência e a segurança dos serviços prestados.
5. Falhas na Manutenção Preventiva:
A busca por redução de custos resultou em uma diminuição significativa na manutenção preventiva da rede elétrica. Isso tornou o sistema mais vulnerável a eventos climáticos, como as recentes tempestades que desencadearam a crise atual.
6. Impacto Social e Econômico:
Os apagões prolongados têm um impacto severo na vida dos cidadãos e na economia local. Pequenos negócios, especialmente no setor alimentício, sofrem perdas significativas. Além disso, a falta de energia afeta serviços essenciais como hospitais e sistemas de transporte.
7. Questionamentos sobre a Regulação:
A situação levanta questões sobre a eficácia das agências reguladoras, como a ANEEL. Críticos argumentam que estas agências não têm sido capazes de garantir que as empresas privatizadas cumpram suas obrigações de serviço público.
8. Debate sobre Reestatização:
O caso da Enel tem reacendido o debate sobre a possibilidade de reestatização de serviços essenciais. Alguns especialistas e políticos argumentam que certos setores, devido à sua importância estratégica, não deveriam ser geridos exclusivamente pela lógica do lucro.
Conclusão:
O caso da Enel em São Paulo ilustra os riscos potenciais da privatização de serviços públicos essenciais sem uma regulação adequada e forte supervisão governamental. Enquanto a privatização promete eficiência e modernização, a realidade muitas vezes revela um cenário de subinvestimento, precarização do trabalho e priorização do lucro sobre o bem-estar público. Este episódio serve como um alerta para a necessidade de repensar modelos de gestão de serviços essenciais, buscando um equilíbrio entre eficiência econômica e responsabilidade social.
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FONTE: Agência de Notícias ABJ – Associação Brasileira dos Jornalistas
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