Associação Brasileira dos Jornalistas

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Assange Está Livre, Mas a Justiça Não Foi Feita

A Guerra à Verdade e a Liberdade de Imprensa.

Se as acusações de violência sexual contra Julian Assange tivessem sido levadas a julgamento e ele tivesse sido condenado, a única questão pertinente seria se ele era ou não culpado dessas acusações. Se fosse considerado culpado, isso deveria ser o fim da discussão, não importando as opiniões pessoais de ninguém sobre Assange ou sua organização, o WikiLeaks.

Mas isso não é o que aconteceu.

O caso contra Assange em relação às acusações de violência sexual nunca foi levado a julgamento. As investigações foram encerradas em 2017 e, apesar da insistência de promotores suecos, ele nunca foi formalmente acusado de um crime. Em vez disso, a narrativa dominante tornou-se que Assange estava usando a embaixada do Equador em Londres para se esconder da justiça, porque ele era culpado de estupro.

Por Caitlin Johnstone

Isso não é verdade. E a insistência contínua de que é verdade é uma das mentiras mais prejudiciais e duradouras que surgiram da guerra à verdade travada pelos Estados Unidos e seus aliados contra o WikiLeaks.

A verdade é que Assange procurou asilo político na embaixada do Equador porque sabia que os Estados Unidos estavam perseguindo-o por seu trabalho de jornalismo, e que ele enfrentava uma extradição iminente. Ele temia que, se fosse extraditado para a Suécia, acabaria sendo enviado para os EUA, onde enfrentaria acusações de espionagem e prisão perpétua ou até mesmo a pena de morte.

Sua preocupação era válida. Desde 2010, quando o WikiLeaks começou a publicar centenas de milhares de documentos militares e diplomáticos dos EUA vazados por Chelsea Manning, o governo dos EUA tem procurado uma maneira de processar Assange. Ele se tornou um alvo prioritário para a CIA e o FBI, e as discussões sobre como processá-lo começaram quase imediatamente após a publicação dos documentos.

Em 2017, uma investigação detalhada do The Intercept revelou que a administração Trump estava preparando acusações contra Assange, que incluíam acusações sob a Lei de Espionagem, um estatuto que nunca havia sido usado contra um jornalista antes. A administração Obama havia decidido não processar Assange sob a Lei de Espionagem porque não queria estabelecer um precedente perigoso para a liberdade de imprensa, mas a administração Trump não tinha tais escrúpulos.

Em abril de 2019, Assange foi finalmente arrastado para fora da embaixada do Equador pela polícia britânica e levado para a prisão de Belmarsh, onde permaneceu até a decisão de um tribunal do Reino Unido de não extraditá-lo para os EUA em janeiro de 2021. A juíza distrital Vanessa Baraitser decidiu contra a extradição com base na saúde mental de Assange e no risco de suicídio, mas rejeitou todos os argumentos de defesa relacionados à liberdade de imprensa e ao caráter político das acusações.

Assange ainda enfrenta uma possível extradição, pois o governo dos EUA apelou da decisão, e ele permanece em uma prisão de segurança máxima enquanto aguarda os resultados desse recurso. Ele não é um homem livre e a justiça ainda não foi feita.

Liberdade de Imprensa Sob Ataque

O caso contra Assange é um ataque direto à liberdade de imprensa. As acusações contra ele são uma tentativa flagrante de criminalizar o jornalismo investigativo e enviar uma mensagem clara a outros jornalistas e editores: se você publicar informações secretas que envergonhem o governo dos EUA, você será perseguido e punido.

Isso cria um precedente perigoso para a liberdade de imprensa em todo o mundo. Se os EUA conseguirem processar e condenar Assange, isso abrirá as portas para que outros governos persigam jornalistas e denunciantes sob o pretexto de proteger a segurança nacional. A mensagem é clara: o jornalismo que expõe crimes de guerra, corrupção e abusos de direitos humanos não será tolerado.

O caso de Assange também destaca a hipocrisia dos EUA quando se trata de direitos humanos e liberdade de expressão. Enquanto os EUA criticam regularmente outros países por perseguirem jornalistas e violarem a liberdade de imprensa, eles estão fazendo exatamente isso ao perseguir Assange. É um caso clássico de “faça o que eu digo, não o que eu faço”.

A Guerra à Verdade

O WikiLeaks desempenhou um papel crucial na exposição de crimes de guerra, corrupção e abusos de poder. As publicações de documentos secretos revelaram a extensão das operações militares dos EUA no Iraque e no Afeganistão, incluindo assassinatos extrajudiciais, tortura e outras violações dos direitos humanos. Elas também expuseram a hipocrisia e duplicidade da política externa dos EUA e de outros países.

Por isso, Assange e o WikiLeaks tornaram-se alvos de uma guerra à verdade. Governos poderosos, empresas e instituições querem silenciar aqueles que ousam expor suas mentiras e crimes. A perseguição a Assange é um exemplo claro dessa guerra, onde a verdade é distorcida, jornalistas são demonizados e a justiça é manipulada para servir a interesses poderosos.

Conclusão

Julian Assange está longe de ser um homem livre, e a justiça ainda não foi feita. A sua perseguição é um ataque à liberdade de imprensa e à verdade, e serve como um aviso sombrio para jornalistas e denunciantes em todo o mundo. A luta pela liberdade de Assange é também uma luta pela liberdade de todos nós, e é vital que continuemos a defender esses valores fundamentais contra aqueles que procuram destruí-los.

FONTE

https://www.caitlinjohnst.one/p/assange-is-free-but-justice-has-not