O que mais me chama a atenção ao assistir às imagens profundamente comoventes de Julian Assange chegando em casa, na Austrália, é como tudo isso parecia impossível até acontecer.
Se você acompanha esse caso há algum tempo, sabe do que estou falando. Este era o momento com que você sonharia em seus momentos tranquilos e privados, mas nunca poderia se permitir acreditar que realmente aconteceria.
POR CAITLIN JOHNSTONE
Foi muito fácil imaginar Assange morrendo numa cela de prisão, num futuro próximo em Belmarsh ou mais adiante na linha do tempo, em algum buraco infernal dos EUA. Era possível imaginá-lo saindo daqui a muitos anos, com os filhos já crescidos e metade de sua vida roubada dele. Foi até possível imaginá-lo saindo um dia por causa de algum detalhe técnico jurídico ou algo assim e vivendo o resto da vida em uma nação que tem uma relação de oposição com Washington como Edward Snowden, talvez. Mas voltando para casa, para a Austrália?? Sem chance.
E ainda assim lá está ele. Aconteceu.
É fácil ficar tão perdido em toda a emoção, controvérsia e discussão sobre os detalhes do caso de Assange e do seu acordo judicial que se esquece de apreciar o facto de que algo impossível acabou de acontecer. Que este foi um evento histórico que poucos de nós acreditávamos que iria ocorrer – até que aconteceu.
E eu não sei sobre você, mas pessoalmente acho tudo isso bastante humilhante. Nunca expressei publicamente o meu pessimismo sombrio sobre o futuro da situação de Assange porque é importante lutar arduamente pela vitória mesmo quando as probabilidades parecem estar contra si, mas honestamente não acreditei que o que acabou de acontecer iria acontecer. E eu estava completamente errado.
O que me faz pensar: com o que mais tenho feito isso? Que outras batalhas que parecem quase fúteis agora um dia me farão de bobo ao me renderem uma vitória inesperada?
Inferno, talvez tudo seja possível. Talvez o que aconteceu com Assange possa acontecer com qualquer uma das outras injustiças e abusos que vemos hoje no nosso mundo. Talvez isso possa acontecer com a Palestina. Ou com a preparação para a guerra com a Rússia e a China. Ou com a corrupção, a opacidade e a má conduta dos nossos próprios governos. Ou com o próprio império. Ou inteiramente com o capitalismo.
Talvez realmente ganhemos isso. Talvez isso não seja um sonho, afinal. Tal como aconteceu com o caso Assange, pode não acontecer da forma mais grandiosa e egoicamente satisfatória que gostaríamos, mas o que acontece? Este não é um filme de Hollywood, é a vida real. A vida real não se move da maneira que Hollywood nos condiciona a esperar. A vida real produz vitórias anticlimáticas e milagres mundanos. E move-se de formas que o ego não consegue prever.
É confortável estar cansado e pessimista. Você se sente menos vulnerável. Você parece mais legal. Você não precisa lidar com o trabalho emocional da decepção. E é certo que muitas vezes você está certo. Isto é, até que você não esteja.
E talvez essa não seja a maneira mais autêntica de chegar a esse ponto. Talvez seja melhor nos lançarmos nessa luta não apenas acreditando que poderemos vencer, mas sabendo que venceremos. Talvez todo esse pessimismo e reserva estejam nos impedindo de realmente pular nas cercas e deixar tudo no ringue. E talvez seja baseado em suposições completamente falsas sobre o que somos realmente capazes de fazer.
Assange foi libertado. Talvez toda a humanidade possa ser.
Ouça a leitura deste artigo (leitura de Tim Foley) :
FOTO: REPRODUÇÃO
FONTE: https://www.caitlinjohnst.one/p/hell-maybe-anything-is-possible