Canal do Panamá é uma das principais rotas marítimas para as exportações do agronegócio brasileiro.
247 – A rota de exportação de soja do Brasil para a China depende de uma série de etapas logísticas que vão desde o transporte interno até a escolha de rotas marítimas de longo curso. Em muitos casos, o Canal do Panamá é parte fundamental desse trajeto, facilitando o acesso ao Oceano Pacífico. Por isso, as recentes declarações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em tom de ameaça à soberania panamenha, geraram preocupação não apenas no Panamá, mas também em países que veem na via interoceânica um corredor vital para o agronegócio.
Em seu discurso de posse, na segunda-feira (20), Trump afirmou que os EUA estavam “recuperando” o Canal do Panamá, alegando que embarcações norte-americanas estariam sendo “severamente sobrecarregadas” por tarifas. O presidente do Panamá, José Raúl Mulino, rapidamente se pronunciou, por meio de um comunicado oficial divulgado em sua conta no X (antigo Twitter), para manifestar sua insatisfação com as declarações do chefe de Estado americano. “O Canal é e seguirá sendo de Panamá e sua administração seguirá estando sob controle panamenho”, pontuou Mulino, lembrando o Tratado Torrijos-Carter de 1977, responsável por garantir a soberania panamenha sobre o canal.
Mulino ressaltou que a infraestrutura do Canal do Panamá não foi “concessão de ninguém” e frisou que, desde a transferência do controle para o governo panamenho em 1999, a gestão vem sendo conduzida com responsabilidade, beneficiando o comércio internacional. “Desde então até a data de hoje, por 25 anos, de maneira ininterrupta, o administramos e expandimos com responsabilidade”, declarou. Ainda em sua fala, o presidente do Panamá assegurou que a China não opera o Canal, respondendo às acusações de Trump de que a via teria sido cedida a Pequim. “O diálogo é sempre a via para esclarecer os pontos mencionados sem prejudicar nosso direito, soberania total e propriedade de nosso Canal”, completou.
Para o Brasil, a ameaça feita por Trump ao Panamá acende um alerta. O Canal é uma das rotas mais utilizadas para o escoamento de soja aos mercados asiáticos, principalmente para a China. A soja brasileira se destaca entre os principais produtos de exportação, com mais de 70% das vendas destinadas ao país asiático. Grande parte da produção concentra-se em estados como Mato Grosso, Paraná, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Goiás e Bahia — sendo o Mato Grosso o maior produtor. O transporte interno é feito por caminhões, ferrovias (como a Ferrovia Norte-Sul e a Malha Paulista) e, em algumas regiões, pela hidrovia do Madeira-Tapajós, que conecta o norte mato-grossense a portos do chamado Arco Norte.
Ao chegar aos portos de exportação, a soja brasileira embarca em grandes navios, como Panamax ou Capesize, que podem seguir até a China tanto pelo Canal do Panamá quanto pela rota do Cabo da Boa Esperança, na África. No entanto, o trajeto via Panamá é extremamente estratégico, pois economiza tempo e custos logísticos. Nesse sentido, portos como Santos (SP) e Paranaguá (PR) no Arco Sul, e Itaqui (MA), Barcarena (PA), Santana (AP) e Miritituba (PA) no Arco Norte, despacham parte significativa da safra nacional que segue o caminho em direção aos principais portos chineses, entre eles Shanghai, Guangzhou, Qingdao e Tianjin.
O eventual aumento de tensões entre Estados Unidos e Panamá pode, portanto, ter repercussões diretas sobre o comércio exterior brasileiro. Se o Canal do Panamá passar a ser alvo de pressões políticas ou sofrer instabilidades operacionais, toda a cadeia produtiva que depende dele — incluindo produtores, transportadoras e tradings de commodities — pode ser impactada. Além de atrasos, haveria risco de encarecimento do frete marítimo, já que as tarifas de passagem poderiam subir ou a rota via Cabo da Boa Esperança passaria a ser mais utilizada, elevando custos e prazos de entrega.
Especialistas em logística e comércio internacional acompanham o desenrolar dessa tensão com atenção. Muitos entendem que a recente ampliação do Arco Norte, aliada às ferrovias em expansão, pode ajudar o Brasil a reduzir a dependência do Canal do Panamá. Contudo, no curto prazo, essa via interoceânica permanece fundamental. Qualquer mudança abrupta nas condições de travessia poderia afetar o desempenho da safra brasileira, especialmente em tempos de alta demanda do mercado chinês.
Enquanto as declarações de Trump sobre “recuperar” o Canal do Panamá e as tarifas impostas aos navios americanos fazem eco em toda a indústria de comércio marítimo, o governo panamenho permanece firme em defender a neutralidade permanente dessa rota crucial. Da mesma forma, o agronegócio brasileiro aguarda os próximos passos diplomáticos e políticos, ciente de que a estabilidade no Canal do Panamá é decisiva para garantir a competitividade e a eficiência de suas exportações.
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FONTE: https://www.brasil247.com/agro/ataque-de-trump-ao-panama-rota-da-soja-brasileira-para-a-china-e-tambem-uma-ameaca-ao-brasil