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Empresários norte-americanos veem China como ‘porto seguro’ e preferem enfrentar as tarifas de Trump

Empresários optam por manter sua produção na China, mesmo sob altos custos.

247 – Apesar dos esforços do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para enfraquecer a China economicamente por meio de uma nova rodada de tarifas comerciais, muitas empresas americanas continuam a enxergar no país asiático um porto seguro em meio à tempestade regulatória promovida por Washington, relata reportagem do The New York Times repercutida pela Folha de S. Paulo nesta quinta-feira (10).

Com a imposição de tarifas que ultrapassam os 100% sobre produtos chineses — um movimento descrito como retaliação contra medidas adotadas por Pequim —, Trump tenta repetir a estratégia de seu primeiro mandato: forçar a indústria americana a retornar aos EUA. A novidade, porém, é a ampliação da ofensiva tarifária a dezenas de outros países da Ásia, incluindo Vietnã, Tailândia e Índia, tidos anteriormente como alternativas para a cadeia de produção global.

No entanto, o efeito prático tem sido o oposto do desejado pela Casa Branca: parte das empresas, diante do cenário global de incertezas, passou a reforçar sua presença na própria China, em vez de diversificar a produção. A explicação, segundo empresários e especialistas, está na previsibilidade dos fornecedores chineses e na complexidade logística de se redesenhar cadeias produtivas consolidadas.

“Permanecer na China é a estratégia de todos agora” – Travis Luther, fundador da MOSO Pillow, empresa sediada em Denver especializada em produtos de cama feitos com fibra de bambu, afirmou que a opção mais racional tem sido manter a parceria com fornecedores chineses. “Permanecer na China e fazer a China funcionar é a estratégia de todos agora”, afirmou Luther. Em uma conferência recente com outros empreendedores dos Estados Unidos, ele relatou que ninguém parecia buscar alternativas fora do país asiático.

Para Luther, as vantagens da China vão além do custo: “isso nem é mais o motivo pelo qual a maioria das pessoas está na China. É porque eles têm processos de fabricação e engenharia muito sofisticados”, explicou.

A instalação de uma planta de processamento nos EUA, segundo o empresário, demandaria investimento de ao menos US$ 6 milhões (R$ 35 milhões) e levaria anos, incluindo o tempo de cultivo do bambu. Durante esse período, a empresa ainda teria de importar a matéria-prima com as tarifas em vigor.

Incerteza política trava investimentos – O ambiente volátil das decisões comerciais do governo Trump tem desestimulado investimentos de longo prazo, de acordo com Kit Conklin, chefe global de risco e conformidade da Exiger, empresa especializada em mapeamento de cadeias de suprimentos. “É como a névoa da guerra, mas é a névoa da guerra comercial. Tem que haver certeza política para que a indústria reaja”, avaliou.

Um executivo de uma multinacional, que falou sob anonimato, compartilhou da mesma frustração: “as regras do jogo parecem mudar todos os dias. Parece que não temos opção a não ser esperar”.

Durante a guerra comercial anterior, empresas transferiram parte da produção chinesa para países vizinhos ou para o México, numa tentativa de escapar das taxas. Porém, com a nova rodada de tarifas impostas a mais de 60 países — 46% no Vietnã, 36% na Tailândia e 27% na Índia —, o incentivo para esse tipo de realocação praticamente desapareceu.

Segundo uma nota do banco japonês Nomura Securities, embora as tarifas sobre a China continuem altas, “a rede tarifária mais ampla lançada sobre seus concorrentes pode inadvertidamente preservar sua posição nas cadeias de suprimentos globais”. O banco observa que, por 90 dias a partir desta quarta-feira (9), todas as tarifas serão uniformizadas temporariamente em 10%.

“Se todos são penalizados, o status quo vence” – Sarah Massie, consultora que orienta empresas americanas em comércio internacional, reforça que o cenário atual estimula a manutenção do que já se conhece. “Se todo mundo está sendo atingido, então isso definitivamente está parando algumas das buscas. Porque as pessoas pensam que pelo menos já sabemos o que esse fornecedor nos dá e estávamos felizes com eles antes das tarifas atingirem, então por que não continuamos felizes”, afirmou. No entanto, alertou que nem todas as empresas conseguirão sustentar os custos no longo prazo.

Enquanto Donald Trump insiste na narrativa de recuperação da indústria nacional, especialistas indicam que, sem capacidade produtiva equivalente e com decisões políticas imprevisíveis, os Estados Unidos enfrentam obstáculos sérios para competir com o aparato industrial chinês — ainda que sob o peso das tarifas.

Foto: Bao Dandan/Xinhua

FONTE: https://www.brasil247.com/economia/empresarios-norte-americanos-veem-china-como-porto-seguro-e-preferem-enfrentar-as-tarifas-de-trump