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Fim do petrodólar acelera desdolarização, abala hegemonia do dólar e viabiliza novo sistema monetário global

‘Não é à toa que, para Donald Trump, a desdolarização é uma guerra contra os Estados Unidos’, escreve o colunista César Fonseca. ‘Tudo pode piorar para os EUA’.

Aumenta o perigo para o dólar, gerando tensão internacional iminente, que a mídia pró-Washington tenta esconder: o fim do acordo entre Estados Unidos e Arábia Saudita, acertado em julho de 1974, pelo qual o petróleo passa a ancorar o dólar, criando o petrodólar.

Por tal acordo, os árabes sauditas se comprometem a comprar títulos da dívida pública americana com reservas em dólar acumuladas no comércio bilateral entre os dois países.

Dessa forma, sem continuidade do acordo, acelera-se a desdolarização, pois a Arábia Saudita inicia comercialização do seu petróleo em outras moedas, especialmente, o yuan chinês etc.

A desdolarização, acelerada pelo término do acordo, produzirá, consequentemente, o fim da hegemonia do dólar, dado que a China, como maior importadora de petróleo do mundo, bem como economia mais importante do planeta, em paridade de poder de compra, ditará, praticamente, a cotação da moeda americana.

Considerando, ainda, que a China, dispondo-se da maior reserva mundial em dólar, cerca de 4 trilhões em bônus da dívida americana, transforma-se, praticamente, em fator de estabilidade monetária global.

Tudo pode piorar para os Estados Unidos, tendo em conta que a dívida pública americana, de cerca de 30 trilhões de dólares, representa risco crescente para os mercados especulativos, sobretudo, se não tem mais petróleo como âncora, isto é, como garantia, em forma de petrodólares, conforme assegurava o acordo Washington-Riad.

O dólar, sem esse poderoso aval, vira, diante do endividamento incontrolável dos Estados Unidos, alvo dos ataques especulativos.

Antes, o Banco Central americano, diante do perigo enfrentado pelo dólar, usava o juro, elevando-o, para enxugar liquidez mundial em dólar.

Agora, porém, depois do crash de 2008, quando teve que triplicar a base monetária, para salvar bancos americanos da bancarrota, por meio da redução de juros, inflação e dívida, está em sinuca de bico.

Se o FED volta, novamente, a puxar as taxas, coloca em maior perigo as finanças globais, dado o tamanho descomunal da dívida americana.

Haveria ou não maior perigo de corrida bancária, depois do fim do acordo Washington-Riad, que encerrou em 9 de julho, depois de 50 anos de duração?

NOVA CORRIDA BANCÁRIA À VISTA

Como Pequim, em acordo com os reis sauditas, pagará importação de petróleo em yuan, o petrodólar entra em estresse total, deixando os mercados mundiais em total incerteza, visto que os árabes se desobrigam de utilizar suas reservas em dólar para comprar títulos da dívida pública dos Estados Unidos.

Já os demais países, diante dessa expectativa tenebrosa, tendem a vender suas reservas em moeda americana, temerosos do novo quadro conjuntural que o fim do acordo produz, de maior instabilidade internacional.

Sendo a maior importadora do mundo de petróleo, a China, ao emitir sua moeda para pagar a mercadoria, em vez quitá-la em dólar, usando suas reservas, joga no chão a cotação da moeda americana.

Isso significa menor oferta de moeda americana na circulação internacional, elevando, consequentemente, seu preço, do qual os demais países, que precisarão de dólar para pagar petróleo, fogem comprar yuan ou outras moedas, de modo a realizar essa operação.

Ganha força, portanto, o discurso dos BRICS, do qual China participa como maior integrante, de ampliar trocas internacionais entre países com moedas próprias.

Eis o desenho do novo cenário internacional: o fim do petrodólar exigirá dos países importadores de petróleo maiores gastos em dólar, que estará mais escasso, na praça mundial, porque os chineses deixam de usar moeda americana na transação do comércio de petróleo, podendo, agora, lançar mão da sua própria moeda.

YUAN DESBANCA DÓLAR

Pela lei da oferta e da procura, os importadores de petróleo terão mais vantagens em comprar petróleo não pagando mais em dólar, que ficaria mais caro com a desdolarização, mas em yuan, moeda que os árabes passam a receber, depois do fim do petrodólar.

A China, portanto, ao acertar com os árabes a comercialização de petróleo em moeda própria, o yuan, acelera, com a desdolarização, a criação, consequente, de cesta de moeda internacional, no compasso da perda de hegemonia do dólar no comércio da mais importante mercadoria mundial sob capitalismo: o petróleo, que deixa de ser âncora da moeda americana como foi o ouro até 1971.

Até 1971, os Estados Unidos, como vencedores da segunda guerra mundial, fixaram, pelo acordo de Bretton Woods, em 1944, o padrão ouro, ao qual o dólar ficou amarrado, como garantia das trocas internacionais.

Quando aliados europeus, como Alemanha, tentaram resgatar seu ouro depositado nos Estados Unidos, com reservas em dólar disponíveis, acumuladas em superávits comerciais com os Estados Unidos, o governo Nixon, em 1971, temeroso de que outros países seguissem o exemplo alemão, descolou o dólar do ouro e deixou a moeda americana flutuar.

A manobra imperialista de Nixon elevou a inflação mundial em dólar e sinalizou que a moeda americana poderia se desvalorizar e deixar de ser hegemônica.

Para evitar essa sinistrose, Washington buscou uma nova âncora para o dólar, dessa vez, o petróleo, acertando, em 1974, acordo do petrodólar com os árabes.

NOVO SISTEMA MONETÁRIO INTERNACIONAL

O preço do petróleo, em 1973, havia disparado por conta da guerra entre árabes e israelenses, apoiados pelos americanos, razão pela qual Washington correu para acertar acordo com a Arábia Saudita, dominada pelos sheiks do petróleo.

Washington garantiu o poder militar aos sheiks, temerosos de revoluções internas que viessem desbancá-los, em face da cobiça petrolífera, e acertou com eles o acordo pelo qual nasceria os petrodólares como moeda de troca, a garantir, por sua vez, o financiamento, pelos árabes, da dívida pública americana.

Esse tempo, o do acordo Washington-Riad, que duraria 50 anos, acabou.

Abre-se, agora, nova era no cenário financeiro internacional, marcado, essencialmente, pela desdolarização, ameaçada pelos acertos entre Pequim-Riad de comercialização do petróleo não mais em dólar, mas, em yuan.

É o ponto de virada da hegemonia do dólar que abre espaço ao avanço de novo sistema monetário internacional.

Não é à toa que Donald Trump, candidato do Partido Republicano, disse, na semana passada, em campanha eleitoral contra Joe Biden, do Partido Democrata, que a desdolarização significa guerra contra os Estados Unidos.

CRÉDITO DA IMAGEM: Shutterstock

FONTE:

https://www.brasil247.com/blog/fim-do-petrodolar-acelera-desdolarizacao-abala-hegemonia-do-dolar-e-viabiliza-novo-sistema-monetario-global