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Nova política monetária americana será maior desafio de Galípolo

“Uma guerra econômica está por trás da estratégia do Banco Central dos Estados Unidos de trabalhar com juros mais baixo”, escreve César Fonseca.

O futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, indicado hoje pelo presidente Lula, terá como principal desafio em seu cargo a nova política monetária americana, pautada em juros mais baixos para que os Estados Unidos reduzam os gastos com a dívida pública, que alcança a casa dos 35 trilhões de dólares.

O mercado se manteve reticente com o anúncio, apoiando, mas com o pé atrás, razão pela qual o dólar terminou o dia em alta, a R$ 5,55.

O fato é que o desafio externo domina o cenário em que Washington quer pagar menos juros para a dívida americana, que afeta a saúde do império e deixa o mercado financeiro mundial de mau humor, tornando-o propenso à especulação e às corridas financeiras, como aconteceu há cerca de um mês, em um semi-terremoto especulativo, originado no Japão.

Washington decidiu trabalhar com juros mais baixos não apenas para pagar menos juros aos credores e apaziguar os jogadores no mercado financeiro, mas também para reduzir o custo de produção do capitalismo produtivo americano e competir com a China.

Os chineses se tornaram os maiores adversários dos americanos porque trabalham com juros baixos oferecidos por bancos públicos de investimento, para impulsionar o capitalismo chinês em escala global.

Os juros americanos estavam crescendo por conta da inflação em alta, potencializando um efeito político capaz de derrotar o governo democrata de Biden, se os Estados Unidos perderem mercado para a China e forem obrigados a suportar o aumento do desemprego.

Guerra econômica em cena

Uma guerra econômica, portanto, está por trás da estratégia do Banco Central dos Estados Unidos de trabalhar com juros mais baixos, ao mesmo tempo que obriga a periferia capitalista a trabalhar com juros mais altos, para garantir vantagens comparativas aos capitalistas financeiros americanos, a fim de se deslocarem para a periferia, onde os juros especulativos estão mais atrativos.

Ao mesmo tempo, o império cuida de estimular corporações econômicas e financeiras a aumentar investimentos no exterior com amplas vantagens fiscais garantidas pelo Tesouro americano.

Essa, por exemplo, foi a conversa recente entre Donald Trump e 20 representantes de corporações do petróleo, durante a qual expôs seu plano de ampliar a exploração de matérias-primas na periferia latino-americana rica em petróleo e minérios, necessários à manufatura americana.

Dessa forma, o império ganha competitividade internacional, ou seja, extraindo riqueza do capitalismo periférico, rico em matérias-primas baratas, enquanto são mantidas elevadas as taxas de juros para atrair investidores americanos que não terão mais o juro elevado americano mantido até agora.

A dívida pública americana de 35 trilhões passou a governar os interesses do império, pois ela é a âncora real da economia de guerra.

Se a dívida entra em default por conta dos juros altos, o império desaba.

Exportação da especulação do centro para a periferia

Estrategicamente, do ponto de vista do império, manter o juro baixo quando a dívida está excessivamente alta representa estimular a exportação de capital especulativo do centro, onde o juro estará mais barato, para a periferia, onde o juro estará alto.

A leitura dos economistas da última ata do Banco Central é a de que a inflação está perto de ultrapassar o limite da meta de 4,5% e que, portanto, a taxa de juro poderá subir, até mesmo, na próxima reunião do Copom, em setembro.

Gabriel Galípolo teria força para mudar o curso dos acontecimentos, no cenário da financeirização econômica conduzida pela nova política monetária americana?

O mercado já espera um aumento de juros de 0,25% na reunião do Copom em setembro, que será a última presidida pelo bolsonarista Campos Neto.

Será, portanto, o maior desafio de Galípolo.

Contraditoriamente, enquanto o juro americano tende a cair, no Brasil, ele tende a subir por conta das previsões do BC, baseadas nas estimativas da pesquisa Focus, elaborada pelos próprios banqueiros.

O BC americano, ao qual o BC brasileiro se submete, trabalha sempre com o juro de longo prazo de 10 anos para balizar a taxa presente.

Essa seria a razão para se deduzir que a taxa presente cairá diante da tendência da taxa futura de dez anos, que conduz o comportamento do mercado global?

Não se tem certeza de nada, porque o prazo de 10 anos é longo no ambiente em que o capitalismo vive uma crise existencial, ameaçado pela especulação.

Voz da direita financeira especulativa

Como destaca o banqueiro Luiz Cezar Fernandes, criador dos Bancos Pactual e Garantia, conhecido e respeitado pelos especuladores no mercado financeiro, quem conduz o Banco Central brasileiro é o Banco Central americano.

É de lá, diz ele, que vêm as determinações a partir das articulações elaboradas nos cálculos dos juros de dez anos fixados pelo FED.

O FED, portanto, é a fonte de poder que orienta o mercado financeiro global e, mais intensamente, o mercado financeiro na América Latina, cuja instabilidade é permanente.

Ao determinar que a taxa de juro nos Estados Unidos caminhará, nos próximos tempos, para uma queda mais acentuada, cuja duração é incerta, crescerão ou não os olhos para o Brasil, onde a taxa real está em quase 7% para uma inflação de 4,5%, no limite da meta?

Haverá maior oferta de capital especulativo na bolsa, como está acontecendo nas últimas semanas, até que as economias suportem ou não a oferta especulativa maior que a demanda à vista.

Pintaria ou não uma armadilha monetária para o novo presidente do BC, a partir de janeiro de 2025?

Ajuste fiscal imperialista impacta periferia

Esse poderá ser o resultado do ajuste da política monetária americana para diminuir o gasto de Washington, para pagar juros da dívida, transferindo o ônus para a periferia capitalista em forma de juros altos e terapia neoliberal que exige cortes crescentes em nome de ajuste fiscal.

O desafio, portanto, de Galípolo à frente do BC no próximo ano, será tentar resistir diante dos efeitos negativos de um desequilíbrio entre oferta e demanda de poupança especulativa estimulada pela política monetária americana.

Ela seria, portanto, o desdobramento da financeirização alterada pela mudança de Washington na política monetária do império.

A periferia está nas mãos do império, expresso no BC americano, responsável pela política monetária imperialista que condiciona toda a ação econômico-financeira do capitalismo periférico.

Foto: Lula Marques / Agência Brasil

FONTE: https://www.brasil247.com/blog/nova-politica-monetaria-americana-sera-maior-desafio-de-galipolo