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NUNCA CONFUNDA IMPRENSA ALTERNATIVA COM CAIXA DE RESSONÂNCIA

A força das redes sociais trouxe a possibilidade de redução de custos e a apresentação de conteúdos mais livres e honestos. O resultado imediato disso foi a quebra na confiança do público em relação aos órgãos de imprensa tradicionais. Tudo isso produziu uma série de obstáculos aos profissionais que conquistam um público fiel e crescente.
A união da velha imprensa aos governos e patrocinadores passou a ser uma luta que somente os fortes conseguem encarar. Para piorar, as próprias empresas que controlam as redes sociais e alguns governos e órgãos oficiais (comunicação e justiça) conduzem os novos espaços digitais para diversas armadilhas que vão desde a censura, passando pela cooperação com a força na publicação da imprensa tradicional.
Por Wellington Calasans em seu X
Ainda assim, os bons profissionais e os conteúdos chamados de “fora da curva” seguem atraindo cada vez mais pessoas e há um visível declínio na confiança do público às grandes marcas de comunicação. Nos EUA, por exemplo, as últimas pesquisas mostram que a confiança na grande mídia está em seu nível mais baixo de todos os tempos, que atinge todas as faixas etárias, especialmente pessoas com menos de 40 anos. A mídia de notícias foi classificada como o grupo menos confiável entre 10 instituições cívicas e políticas nos EUA, ao passo que a confiança no governo local e estadual é maior. Parece que as pessoas estão se voltando para um modelo de comunidades autogovernadas e distantes das instituições centralizadas.
A mídia tradicional foi criticada por seu partidarismo extremo nos últimos anos, o que afastou vastos públicos em direção a alternativas mais confiáveis. A perda de confiança é atribuída a mudanças no viés da mídia e à revelação de opções tecnológicas, que mostraram o que sempre esteve lá, mas não era amplamente conhecido. A ascensão da mídia alternativa contribuiu para o declínio da confiança pública na mídia tradicional, transformando drasticamente o cenário das economias de informação e mídia.
O único caminho viável para recuperar a lealdade do público é escrever e falar com integridade baseada em fatos, conquistando assim a confiança das pessoas. No entanto, a mídia tradicional é parte das guerras e sabotagens e não pode primar pela verdade. Preocupada, a chamada imprensa mainstream resolveu disputar este mesmo espaço das redes.
Para isso, usa diferentes maneiras de minar os potenciais focos de concorrência:
1- Censura por volume: por possuir uma equipe infinitamente maior, a imprensa tradicional divulga muito conteúdo, muito lixo, com o objetivo de “vencer pelo cansaço” o público e impedir que este mesmo público encontre os “inconvenientes concorrentes”;
2- Controle das verbas de propaganda: o investimento em propaganda dos governos e órgãos públicos é cada vez mais controlado pela imprensa tradicional. Através da força que ainda possuem, a mídia tradicional acaba por ter forte influência sobre o destino destas verbas;
Outro concorrente muito forte para os profissionais que ousam desafiar esta estrutura gigante é a falsa imprensa alternativa. Várias páginas surgem como independentes, mas trabalham meramente como caixas de ressonância daquilo que é difundido na mídia alternativa ou – em muitos casos – uma assessoria de imprensa disfarçada, que ecoam mensagens de governos e órgãos públicos.
O caminho é longo, mas o público começa a comparar a qualidade do produto final a partir dos resultados obtidos. As recentes guerras na Ucrânia e Oriente Médio foram decisivas para separar imprensa alternativa e caixa de ressonância. As eleições em diferentes países também acabam por separar quem é quem. Os profissionais que buscam a verdade e a ética na informação devem estar cada vez mais atentos, pois se não caírem nas “tentações”, serão cada vez mais valorizados nos próximos anos.

AUTOR: Wellington Calasans – Jornalista brasileiro radicado na Suécia, membro da FPA – Foreign Press Association in Sweden, comentarista de política internacional na Televisão Pública de Angola e consultor de estratégia política de partidos e políticos no continente africano.

FOTO: REPRODUÇÃO DO X
FONTE
https://x.com/wcalasanssuecia/status/1847186003787682021