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“O império está em declínio, negar esse fato não vai salvá-lo”, afirma economista americano

Richard Wolff analisa o impacto do retorno de Trump à presidência e os reflexos do declínio do império americano no mundo e nas vidas dos trabalhadores.

247 – Em sua palestra “Global Capitalism: What Trump 2.0 Means”, o Professor Richard D. Wolff, renomado economista marxista, abordou as profundas transformações que estão moldando os Estados Unidos e o mundo. Wolff destacou que a atual crise econômica e política nos EUA é parte de um fenômeno maior: o declínio do império americano. Para ele, negar essa realidade tem gerado soluções inadequadas e um agravamento dos problemas estruturais do país.

“Vivemos em um tempo de declínio, e é muito mais fácil quando uma nação está em ascensão. As lideranças não estão preparadas para lidar com isso e sequer conseguem falar a respeito”, afirmou Wolff, chamando atenção para a dificuldade da classe política em reconhecer os sinais de decadência.

O Cenário Global e os BRICS

Um dos pontos centrais da palestra foi a ascensão de novas potências econômicas, lideradas pelos países do BRICS. Segundo Wolff, a recente entrada da Indonésia no grupo é um exemplo claro da transição de poder global.

“Os BRICS, liderados pela China, representam hoje entre 55% e 60% da população mundial e cerca de 36% do PIB global. Enquanto isso, os EUA e seus aliados do G7 somam apenas 28%. Isso significa que o eixo de riqueza e poder está indo para o Oriente, e nós estamos ficando para trás”, destacou Wolff. Ele também pontuou que a dependência de muitos países do financiamento chinês tem transformado radicalmente o cenário econômico global.

O Papel de Trump e a Insatisfação Popular

Para Wolff, a eleição de Donald Trump foi um sintoma da insatisfação generalizada da população com os partidos tradicionais. “Trump se destacou porque os americanos estavam se sentindo abandonados pelos partidos Democrata e Republicano. Ele se apresentou como diferente e, para muitos, foi uma tentativa de romper com o sistema estabelecido”, explicou.

Ao mesmo tempo, o economista criticou as políticas de protecionismo econômico promovidas por Trump e mantidas por Joe Biden, como as tarifas de 100% sobre veículos elétricos chineses. Segundo Wolff, essas medidas só prejudicam os trabalhadores americanos. “Enquanto a China vende caminhões elétricos por US$ 30 mil, os EUA impõem tarifas que dobram o preço. Isso protege empresas como Ford e General Motors, mas prejudica todos os outros setores que precisam de transporte barato e eficiente para competir globalmente”.

A Crise dos Trabalhadores e a Concentração de Riqueza

Outro tema abordado foi a crescente desigualdade econômica nos EUA, que, segundo Wolff, é uma consequência direta do declínio do império. “Como em todos os impérios em declínio, os ricos tentam transferir o peso da crise para os trabalhadores. Nos últimos 40 anos, os sindicatos foram demonizados e enfraquecidos, o que permitiu um aperto cada vez maior sobre a classe trabalhadora”, afirmou.

Ele também criticou a forma como a inflação tem sido usada como ferramenta de exploração. “A inflação nada mais é do que a decisão de algumas pessoas de aumentar os preços para preservar seus lucros. Enquanto isso, os salários não acompanham, e os trabalhadores são obrigados a abrir mão de bens essenciais”.

O Futuro e o Papel dos Movimentos Sociais

Apesar do cenário desafiador, Wolff acredita que ainda há esperança, desde que os movimentos sociais consigam mobilizar a população. “Estamos em um momento histórico. O movimento trabalhista está despertando, como vimos com os trabalhadores da Starbucks e da Amazon. Se conseguirmos construir coalizões e movimentos fortes, podemos mudar o rumo dessa história”, concluiu.

A palestra de Wolff ofereceu uma análise contundente sobre as transformações econômicas globais e suas implicações locais. Para ele, enfrentar o declínio do império americano exige primeiro abandonar as ilusões e encarar a realidade com honestidade e organização coletiva. Assista:

FOTO: Wikimedia Commons

FONTE: https://www.brasil247.com/entrevistas/o-imperio-esta-em-declinio-negar-esse-fato-nao-vai-salva-lo-afirma-economista-americano