James Onnig analisa governo Trump e o impacto global de suas políticas.
247 – Em entrevista ao programa Boa Noite 247, o analista político James Onnig fez uma análise contundente sobre os primeiros passos do novo governo Donald Trump e as consequências de suas políticas para os Estados Unidos e o mundo. Segundo Onnig, a nova administração americana já está promovendo mudanças geopolíticas significativas, em um contexto de “autoritarismo e neoliberalismo radical”.
“Trump assumiu o poder há poucas semanas e já está mudando a percepção geopolítica. Ele traz a ideia de governar promovendo uma nova era do ouro, saindo da decadência, mas de uma maneira autoritária e com interesses bem complicados”, afirmou. Entre os principais pontos de preocupação apontados por Onnig está a postura agressiva em relação à Palestina. “A declaração de hoje reforça a ideia de uma limpeza étnica na região de Gaza e uma imposição de política neoliberal para transformar o território em um grande empreendimento”, denunciou.
Crise política interna e a perseguição aos opositores
No cenário interno, Onnig alertou sobre a repressão aos opositores de Trump e a crescente polarização dentro do país. “Os agentes do FBI que investigaram os eventos de 6 de janeiro agora estão sendo perseguidos. O que Trump faz é criar uma semântica da insegurança para conversar com seu eleitorado, ao mesmo tempo em que ameaça seus adversários”, afirmou.
Ele também apontou que, ao passo que Trump impõe sua nova política, os democratas enfrentam uma crise de liderança. “Os democratas estão em frangalhos. Mas uma nova geração de deputados democratas está indo para as ruas e protestando contra esse governo autoritário”, disse Onnig, criticando o silenciamento dessas manifestações pela grande mídia.
A “roupagem totalitária” do capitalismo monopolista
O analista argumentou que as políticas do governo Trump representam uma fase extrema do capitalismo global. “Estamos encontrando, de forma explícita, o capitalismo monopolista com sua verdadeira roupagem. Ele veste a roupagem do totalitarismo, do nazi-fascismo e quer levar essa ideia para o mundo sem nenhum pudor”, afirmou.
Onnig também destacou que a estratégia de Trump não é apenas interna, mas também inclui um impacto direto sobre os sistemas multilaterais. “Ele quer levar o caos e o colapso do sistema ONU para operar sem qualquer crivo da comunidade internacional. Isso não é uma simples crítica à ONU, é uma tentativa de reconfiguração do tabuleiro geopolítico mundial”, disse.
A intervenção no Oriente Médio e a submissão de Netanyahu
Um dos pontos mais preocupantes levantados por Onnig é a relação entre Trump e o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu. “O que Trump está fazendo é submeter Netanyahu aos seus desígnios. Enquanto Biden não conseguiu sequer influenciar o governo israelense, Trump está passando para a história como aquele que domesticou esse sanguinário genocida”, criticou.
Ele alertou que as consequências da nova política americana no Oriente Médio podem ser catastróficas. “O frio na espinha que sentimos ao ver Trump revertendo qualquer possibilidade de paz para um Estado palestino deve se estender a outros países da região”, afirmou. Segundo Onnig, as tensões também começam a crescer no Líbano, na Síria, no Egito e na Jordânia, em resposta às declarações de Trump.
Crise econômica, imigração e um “americano de segunda classe”
Outro aspecto destacado por Onnig foi o impacto econômico da política protecionista de Trump, em especial sua relação com o México e o Canadá. “A taxação dos produtos mexicanos e canadenses vai gerar um gatilho inflacionário dentro dos Estados Unidos. A mão de obra do setor agrícola americano é composta majoritariamente por imigrantes latinos. Se esses trabalhadores forem substituídos por americanos formalizados, os custos vão subir e a inflação vai explodir”, explicou.
O objetivo de Trump, segundo Onnig, é criar “um americano de segunda classe”. “Ele quer um trabalhador que aceite receber menos e que tenha restrições de circulação. Isso tem nome: apartheid”, afirmou. Ele comparou a situação com a história do gueto de Varsóvia, dizendo que a divisão racial e social nos Estados Unidos pode se tornar ainda mais drástica sob esse governo.
O papel dos Brics e a resposta global
Na entrevista, Onnig também mencionou o impacto dessa nova política nos Brics. “Essa aliança ainda não convocou uma reunião extraordinária para debater essa nova realidade política, mas a cúpula do Brics, que acontecerá no Rio de Janeiro em julho, pode colocar o comportamento de Trump na pauta”, explicou.
O analista concluiu sua participação com um alerta sobre a importância da mobilização social e da unidade internacional. “A luta continua, e as ruas estão sendo ocupadas. Precisamos de uma globalização inclusiva e que atenda aos interesses da classe trabalhadora”, finalizou. Assista:
FOTO: Caio Guatelli/Fotos Públicas
FONTE: https://www.brasil247.com/entrevistas/os-estados-unidos-estao-embarcando-numa-crise-decisiva-para-sua-manutencao-dentro-do-grupo-hegemonico-do-planeta-diz-onnig