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Por que a eleição de outubro para prefeito de São Paulo é importante

Na esquerda e na direita, ninguém sabe o que vai acontecer na eleição de São Paulo. Por isso, o Brasil acompanha com mais curiosidade do que o normal.

Em 2020, a Cidade do México tinha 9,2 milhões de habitantes. Em 2022, a cidade de São Paulo tinha 11,5 milhões de habitantes. Parece seguro, portanto, concluir que a maior cidade da América Latina está localizada no estado de São Paulo, no Brasil. No mesmo censo, o estado de São Paulo tem 44,4 milhões de habitantes, e o Brasil, 203 milhões. Quase um quarto do Brasil está no estado de São Paulo, e mais de um quarto do estado de São Paulo está na cidade de São Paulo. Quanto ao nome, significa São Paulo em português.

Os dois principais partidos da Nova República (período da história brasileira que começou em 1988) surgiram da cidade de São Paulo: o PT e o PSDB. De 1995 a 2016, ambos os partidos se revezaram na presidência do país. Suas administrações podem ser consideradas neoliberais, mas o Brasil passou todos esses anos polarizando entre o PSDB e o PT como se fossem coisas opostas, com o PSDB representando a “direita” e o PT a “esquerda”. Em 2016, Dilma Rousseff sofreu impeachment e a vice-presidente encerrou seu mandato. Depois disso, o bolsonarismo veio como representante da “direita”, e o PSDB entrou em declínio. O Brasil agora está polarizado entre o PTismo e o bolsonarismo. Esta última força política é muito desorganizada e não possui um partido.

O estado de São Paulo ficou de 2001 a 2023 sob governadores do PSDB e seus vice-governadores. O atual vice-presidente Geraldo Alckmin governou o estado de São Paulo por oito mandatos. Ele também foi o principal candidato presidencial contra Lula em 2006, e em 2018 tentou enfrentar tanto o PT quanto Bolsonaro, mas não chegou ao segundo turno. O último governador do PSDB em São Paulo foi João Dória — um caso atípico, pois foi eleito com o apoio informal de Bolsonaro, que disputava a eleição presidencial pela primeira vez e foi bem-sucedido. Em 2022, Bolsonaro não conseguiu ser eleito presidente, mas conseguiu eleger o governador Tarcísio Freitas, o primeiro governador paulista a ser eleito por um partido que não o PSDB em décadas. Assim, com alguma solidez, o estado de São Paulo é considerado bolsonarista ou “de direita”. O estado estava comprometido com o PSDB quando ser “de direita” significava estar comprometido com o PSDB. Quando ser de direita virou bolsonarista, o estado passou a eleger os indicados de Bolsonaro.

As coisas são bem diferentes na capital. Se o estado de São Paulo nunca elegeu um governador do PT, a cidade de São Paulo marcou época ao eleger Luiza Erundina, do PT, como prefeita em 1988. Com um viés politicamente correto, o fato de ela ser mulher e nordestina foi destacado. (São Paulo não é tão populosa porque tem uma taxa de natalidade fenomenal, mas sim porque atrai muitos migrantes de outras partes do Brasil, e a região pobre e rural do Nordeste é a origem de muitos deles.) Também merecem destaque a eleição da sexóloga Marta Suplicy (PT), em 2000, e de Fernando Haddad (PT), em 2012. Este último teve uma péssima avaliação, tentou a reeleição em 2016 e perdeu no primeiro turno (o vencedor foi João Dória, que depois se tornou governador pelo PSDB com o apoio de Bolsonaro). Ainda assim, Fernando Haddad é um homem muito importante no PT: foi o grande responsável pela desvalorização das universidades públicas quando foi ministro da Educação de Lula, entre 2005 e 2012, e agora é o ministro da Fazenda que almeja a responsabilidade fiscal. Em 2018, quando Lula não conseguiu concorrer à presidência, foi ele quem enfrentou Bolsonaro nas urnas.

Assim, como o estado de São Paulo se manteve à direita enquanto o país oscilou e pendeu mais para a esquerda, podemos dizer que a cidade de São Paulo também está em tensão com o estado, e mais sintonizada com a política federal. Por essas e outras razões, os olhos do país se voltam para as eleições municipais em São Paulo, que ocorrerão em outubro. Presidente e governador, só em 2026.

Em São Paulo, tanto o bolsonarismo quanto a esquerda estão divididos. Talvez pela má memória de Haddad, o PT pela primeira vez não lançou um candidato à prefeitura de São Paulo. Em 2020, o desempenho do candidato petista foi péssimo, e o esquerdista que chegou ao segundo turno foi Guilherme Boulos, do PSOL. Esse é um daqueles partidos woke que são iguais em qualquer lugar do mundo. Guilherme Boulos é filho de um professor de medicina da faculdade mais prestigiada do Brasil (USP) que, no entanto, faz cosplay do Lula dos anos 70 e lidera um movimento de moradores de rua. Disputando com ele a esquerda, o nome mais relevante é Tabata Amaral, uma das jovens brilhantes que foram enviadas para Harvard e para a política por meio dos projetos sociais do bilionário Jorge Paulo Lemann.

Na direita, há uma corrida bem maluca. Em vez de criar um partido, Bolsonaro pula de um partido para outro, e agora fica no PL de Valdemar da Costa Neto (ninguém relevante do ponto de vista eleitoral; no Brasil existe o que informalmente se chama de “partido de aluguel” e os donos desses partidos têm importância burocrática). O PL decidiu apoiar a reeleição do atual prefeito, Ricardo Nunes, do MDB (um partido importante, que costuma dar apoio regional, mas não lidera candidaturas nacionais na Nova República). Ele chegou à prefeitura porque era uma espécie de vice-prefeito de vice-prefeito. Na cidade de São Paulo, é normal o prefeito não completar o mandato porque concorreu a presidente ou governador. Quando Dória venceu Fernando Haddad em 2016, ele não completou o mandato porque em 2018 concorreu ao governo estadual. Depois, seu vice-prefeito assumiu. Em 2020, já sofrendo de câncer, concorreu à reeleição. Venceu, morreu e assumiu seu vice-prefeito: Ricardo Nunes, que busca a reeleição pela primeira vez. Sua gestão não é das mais bem avaliadas, e seu perfil discreto não dá motivos para que seja considerado “de direita”.

Por outro lado, uma candidatura “conservadora” nos moldes bolsonaristas é a do técnico e influenciador goiano Pablo Marçal. Parece-me que em condições normais tal cidadão estaria acima de críticas, pois já foi condenado por assalto a bancos. Seus problemas com a polícia são notórios e aparecem na Wikipédia. Neste artigo também dei exemplos de sua mitomania. Apesar dos absurdos, esse candidato é considerado conservador, e Bolsonaro já o elogiou, embora tenha lamentado ter que apoiar Nunes.

Além disso, há o apresentador de TV José Luís Datena, que denuncia os problemas de São Paulo e fala mal de bandidos. Ele já havia ensaiado uma candidatura a prefeito muitas vezes, e dessa vez concorre pelo PSDB – algo que dificilmente aconteceria nos bons anos do partido.

Na esquerda e na direita, ninguém sabe o que vai acontecer na eleição paulista. Por isso, o Brasil acompanha com mais curiosidade do que o normal.

FOTO: Social Media

FONTE: https://strategic-culture.su/news/2024/08/23/why-the-october-election-of-sao-paulo-mayor-matters/