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Por que a Volkswagen está em crise e fechará fábricas mesmo com faturamento recorde?

A chefe do conselho de funcionários da Volkswagen, Daniela Cavallo, anunciou nesta segunda-feira (28) a notícia bombástica: ao menos três fábricas da montadora na Alemanha estão próximas de serem fechadas, e dezenas de milhares de postos de trabalho deverão ser cortados. A notícia pegou de surpresa uma grande parte da opinião pública alemã, mas não os especialistas do setor. Um claro sinal de alerta já viera em setembro, quando a maior montadora de automóveis da Europa encerrou uma garantia de emprego que estava em vigor há cerca de 30 anos. Entre a população, o anúncio causou comoção. “Nenhuma empresa simboliza tanto o milagre econômico, a prosperidade e a reputação global dos produtos made in Germany quanto a Volkswagen”, comentou o presidente do instituto econômico DIW, Marcel Fratzscher.

Por DW – Insa Wrede, Alexandre Schossler

Lucros em queda

No papel, a Volkswagen até que está bem. De acordo com o mais recente relatório anual, em 2023 o grupo até registrou um novo faturamento recorde, de cerca de 332,3 bilhões de euros – um aumento de 15,5%. A maior fabricante de automóveis da Europa também registrou um aumento no lucro: o lucro operacional anual cresceu para cerca de 22,58 bilhões de euros. Em contraste com o forte crescimento das vendas, no entanto, esse foi um aumento de apenas 2%. Para 2024, a previsão de lucro foi revisada para baixo, apesar de ainda estar claramente no positivo. Um dos motivos para isso é a queda nas vendas, um problema que também está afetando outros fabricantes de automóveis alemães.

Dependência do mercado chinês

E não há perspectivas de melhora. A forte dependência do setor automobilístico alemão em relação à China, onde ele realiza cerca de um terço de seus negócios, está se mostrando fatal. Durante anos, o mercado automobilístico daquele país garantiu um rápido crescimento e bons lucros. Continua após a publicidade Mas a situação mudou. No segundo trimestre de 2024, a Volkswagen vendeu quase um quinto a menos de carros na China. Os fabricantes chineses de carros elétricos, mais baratos e mais inovadores, estão agora superando claramente o desempenho da empresa sediada em Wolfsburg. O mercado de vendas europeu, por si só, não consegue compensar isso. E as novas marcas da China, que crescem rapidamente no seu próprio país, estão agora chegando com força também à Europa, com carros elétricos que muitas vezes são tecnologicamente superiores aos europeus.

Demora com o carro elétrico

Os analistas do setor afirmam que a concorrência dos fabricantes de automóveis chineses e de outros fabricantes estrangeiros só vai aumentar e que a Volkswagen dormiu no ponto ao adiar demais a transformação rumo ao carro elétrico e, assim como toda a indústria automotiva alemã, continuar apostando nos motores a combustão. “Os principais mercados estão na Ásia, e lá é necessário ter carros elétricos competitivos”, ressalta especialista Helena Wisbert, do Centro de Pesquisas Automotivas, em Duisburg, na Alemanha, em entrevista ao canal Tagesschau24. Fratzscher também enfatiza isso: “A decisão contra o motor de combustão e a favor da tecnologia de baterias foi tomada há muito tempo, e não foi e nem seria na Alemanha, mas em todo o mundo e especialmente nos principais mercados, como a China e os EUA”, diz.

Depois de largarem atrás, as montadoras alemãs ainda precisaram primeiro adquirir experiência no campo da eletromobilidade, explica o especialista Stefan Bratzel. No início, os custos de produção são mais altos. “Essa também é uma razão pela qual a situação é muito melhor na China, porque eles já adquiriram muito mais experiência e também implementaram as melhorias de eficiência correspondentes”, diz. Dos mais de 4 milhões de carros produzidos na Alemanha em 2023, pouco menos de um quarto era puramente elétrico.

Abaixo da capacidade de produção

Que fábricas na Alemanha agora corram o risco de serem fechadas também se deve ao fato de elas não estarem operando em sua capacidade máxima já há algum tempo. As vendas de carros na Europa caíram significativamente e estão 2 milhões de carros abaixo do nível pré-pandemia, argumenta a Volkswagen. E os especialistas não esperam um crescimento sustentável na Europa. O mercado local de automóveis é considerado estagnado. Em agosto, os registros de carros novos na UE caíram 18% em comparação com o mesmo mês de 2023, enquanto na Alemanha a queda foi de quase 28%. A Associação Alemã da Indústria Automotiva (VDA) está prevendo apenas 2,8 milhões de novos registros para o ano como um todo, cerca de um quarto a menos do que no ano pré-crise de 2019.  Esse problema, portanto, não é só da VW. Em média, as fábricas das montadoras alemãs estão trabalhando com cerca de dois terços da capacidade, diz Bratzel. Segundo ele, uma fábrica deveria operar acima de 80% de sua capacidade para se manter viável. A situação é particularmente ruim em países da Europa Ocidental, como Alemanha, França, Itália e Reino Unido, conforme relata a revista econômica Wirtschaftswoche. Em contrapartida, países como Espanha, Turquia, Eslováquia e República Tcheca ainda atingem uma taxa de utilização de capacidade de 79%. Os salários nesses países são mais baixos do que na Alemanha.

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