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Por que Entregamos Nossa Indústria para a China?

As cinco decisões que transformaram o Brasil no perdedor da globalização.

Em 1980, o Brasil era uma potência industrial emergente, com produção maior que China e Coreia do Sul combinadas. Hoje, somos meros exportadores de commodities, enquanto assistimos a China dominar mercados que já foram nossos. Como chegamos a esse ponto?

A resposta está em cinco decisões críticas tomadas nos anos 90 que mudaram irreversivelmente o destino industrial do Brasil.

1. A Abertura Comercial Suicida

Reduzimos nossas tarifas de importação de 85% para 15% praticamente da noite para o dia. Enquanto isso, a China manteve proteções estratégicas para sua indústria nascente. O resultado? Nossas fábricas, ainda em desenvolvimento, foram expostas a uma competição internacional para a qual não estavam preparadas.

2. O Câmbio que Matou Nossa Competitividade

Mantivemos o real artificialmente valorizado, tornando produtos importados baratos e nossas exportações caras. A China fez exatamente o oposto: manteve sua moeda competitiva para conquistar mercados globais.

3. O Abandono da Política Industrial

Nossos gestores econômicos declaravam orgulhosamente que “a melhor política industrial é não ter política industrial”. Enquanto isso, o estado chinês investia pesadamente em suas empresas, criando campeões nacionais que hoje dominam mercados globais.

4. A Ilusão do “Livre Mercado Amigável”

Acreditamos ingenuamente que bastava abrir nossa economia para nos desenvolvermos. A China entendeu que desenvolvimento requer estratégia e proteção de interesses nacionais.

5. A Especialização Regressiva

Aceitamos passivamente nos especializar em commodities, acreditando que isso seria suficiente para nosso desenvolvimento. A China recusou-se a aceitar seu “lugar natural” na divisão internacional do trabalho e construiu ativamente novas vantagens competitivas.

As Consequências: Um Duplo Golpe

Primeiro Golpe: A Armadilha das Commodities

  • China se tornou maior compradora de nossas matérias-primas
  • Isso nos empurrou ainda mais para especialização em produtos básicos
  • Gerou “doença holandesa”, prejudicando ainda mais nossa indústria

Segundo Golpe: A Invasão Industrial

  • Produtos chineses inundaram nosso mercado interno
  • Nossa indústria perdeu competitividade internacional
  • Perdemos mercados de exportação na América Latina e África

Casos que Ilustram Nossa Derrota

O Que Perdemos:

  • Gurgel: Nossa montadora nacional que poderia ter sido a Hyundai brasileira
  • Engesa: Tecnologia militar de ponta que impressionava até americanos
  • Indústria de autopeças: Dominávamos mercados que hoje são chineses

O Que a China Conquistou:

  • Great Wall Motors: De pequena montadora a gigante global
  • Huawei: Líder mundial em 5G
  • BYD: Atrai até montadoras alemãs para produzir na China

O Preço do Erro: Números que Assustam

  • 1980: Brasil exportava US$ 20 bilhões em produtos industrializados
  • Hoje: China exporta US$ 3,5 trilhões , Coreia US$ 700 bilhões, Brasil apenas US$ 340 bilhões (majoritariamente commodities) — dados de 2024

A Lição Mais Dura

Nossa desindustrialização não foi inevitável – foi resultado de escolhas. Enquanto celebrávamos dogmas do livre mercado, a China construía metodicamente sua potência industrial.

O resultado? Hoje somos o que nossos gestores econômicos escolheram que fôssemos: um país especializado em commodities, que vê sua antiga capacidade industrial ser sistematicamente destruída pela competição asiática.

A pergunta que fica: quanto tempo mais vamos insistir no erro de acreditar que podemos nos desenvolver sendo apenas o “celeiro do mundo”?

AUTOR: Paulo Gala / Graduado em Economia pela FEA-USP | Mestre e Doutor em Economia pela Fundação Getúlio Vargas em São Paulo | Foi pesquisador visitante nas Universidades de Cambridge UK e Columbia NY | Autor com +10,000 cópias de livros vendidas | Geriu carteiras de +R$ 3,000,000,000 | Professor na FGV/SP há 20 anos.

FONTE: paulogala.com.br