Os produtores de soja dos EUA pedem que o governo de Donald Trump suspenda as tarifas contra a China, interrompa a guerra comercial e abra negociações imediatas. O temor do setor é de que uma prolongação das barreiras leve centenas de produtores à falência diante da guinada de Pequim para substituir os bens americanos pela soja brasileira.
Nos últimos dias, a guerra comercial entre Trump e Xi Jinping elevou as tarifas recíprocas para mais de 145%. A China não hesitou em responder e mandou recados de que tem mais fôlego que os americanos para resistir ao impacto da crise.
Mas um dos setores escolhidos para retaliar foi considerado como “uma bomba atômica” para os republicanos: a agricultura e, em especial, a soja.
Comprando anualmente mais de US$ 15 bilhões da soja, a China é o maior mercado para os exportadores dos EUA. O produto ainda é um verdadeiro pilar da economia agrícola norte-americana, movimentando US$ 125 bilhões, representando 0,6% do PIB americano. São cerca de 500 mil produtores que, agora, vivem a incerteza diante da disputa com Pequim.
“A escalada contínua das tarifas com a China é preocupante para os produtores de soja, pois a China é um mercado de exportação essencial para a soja dos EUA”, disse a Associação Americana da Soja.
Caleb Ragland, presidente da entidade e produtor do Kentucky, disse que a retaliação da China “é uma pílula difícil de engolir”. “Corremos o risco de sofrer impactos imediatos nesta safra, juntamente com os impactos que uma guerra comercial prolongada com a China causará em nosso setor mais uma vez”, disse.
“As interrupções de curto prazo são dolorosas, mas as repercussões de longo prazo em nossa reputação, nossa confiabilidade como fornecedor e a estabilidade dessas relações comerciais são difíceis de expressar em palavras”, alertou.
“Pedimos ao governo e à China que também façam uma pausa entre si e busquem um acordo comercial que trate das preocupações comerciais dos EUA de forma construtiva e, ao mesmo tempo, preserve os mercados dos quais dependemos”, disse Ragland. “Se essa guerra for mantida, vamos ter um número significativo de fazendeiros indo à falência.”
Para analistas americanos, a soja do país já perdeu a concorrência para o Brasil. Segundo a consultoria Terrain, houve uma redução da demanda chinesa pelo produto dos EUA. As importações em 2024/25 caíram 3% e, ainda com base no levantamento, será difícil reverter essa tendência.
“Um acordo comercial renovado ofereceria falsas esperanças. O Brasil tem se ocupado em alimentar a China com soja (fornecendo quase três vezes mais do que os EUA em 2022/23)”, afirmou a análise do Terrain. “A China cumpriu apenas 60% de seu compromisso anterior no acordo da Fase Um em 2020/21, agora está alinhada com o Brasil e tem estado por anos, e tem uma demanda estagnada.”
Um dos caminhos negociados entre o setor e a Casa Branca é o aumento de subsídios para evitar as falências. Em seu primeiro mandato, Trump destinou US$ 23 bilhões em subsídios ao setor agrícola, como forma de compensar as perdas.
A ideia de um apoio foi defendida esta semana pela Associação da Soja e Iowa, estado que representa a segunda maior produção de grãos do país. “Os produtores de soja se encontram na linha de frente em uma guerra comercial global”, disse a entidade.
“No momento em que os produtores de soja se dirigem aos campos para plantar a safra deste ano, a Iowa Soybean Association (ISA) pede uma ação rápida e decisiva para mitigar o impacto econômico sobre o setor de soja”, defendem.
As tarifas cobradas de países que dependem da soja e dos produtores de soja dos EUA atingem especialmente os produtores de Iowa. À medida que as tarifas entram em vigor, os importadores favorecem os concorrentes, inclusive o Brasil e a Argentina. Uma guerra comercial prolongada dos EUA corre o risco de afastar permanentemente os produtores de soja de Iowa e dos EUA dos principais mercados. Brent Swart, presidente da ISA e produtor de soja da região Spencer
“Enquanto o governo usa as tarifas para corrigir os desequilíbrios comerciais de longa data dos EUA, a ISA pede uma ação rápida e estratégica para manter a segurança de nosso país, preços razoáveis de alimentos para os consumidores e a prosperidade econômica de Iowa e das comunidades rurais de nosso país”, disse Swart.
Entre os pedidos entregues pela entidade para a Casa Branca está uma negociação para que a China estabeleça um acordo comercial com “compromissos de compra obrigatória de produtos agrícolas dos EUA”, além de criar linhas de crédito para “compensar as grandes perdas financeiras sofridas pelos agricultores”.
O impacto, porém, vai muito além da economia. Uma parcela importante da produção e exportação de soja ocorre em estados críticos para o apoio a Donald Trump e aos republicanos. Um deles é Louisiana, de onde vem o deputado e líder da Câmara, Mike Johnson.
Antes de suspender suas tarifas aos EUA, os europeus não disfarçavam que parte da estratégia de atacar a soja era uma manobra para atingir politicamente o governo Trump. Mais de 80% das exportações americanas de soja para a UE vêm daquele estado.
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FONTE: https://www.edicaoms.com.br/mundo/soja-dos-eua-pede-pausa-em-tarifas-com-china-e-ja-fala-em-falencias