Para o governo Trump é essencial que Paz e petróleo encontrem um ponto de equilíbrio beneficioso para os Estados Unidos e seus parceiros no Oriente Médio.
Pode até ser que o Trump 2.0 signifique uma de-escalada das guerras e conflitos deflagrados em diferentes pontos do planeta, muito especialmente no Oriente Médio e na Europa Oriental. Mas não há dúvida de que assistiremos um incremento de políticas de mão dura, coerção militar e securitização generalizada da agenda internacional dos Estados Unidos.
O elenco de Ordens Executivas assinadas por Trump 2.0 nas primeiras 24 horas de sua presidência mostra uma concentração em decisões que fazem uso, como primeira alternativa, de atributos duros de poder. De saída, observa-se um alcance amplo dos conteúdos deste elenco, o que se associa com uma necessidade de demonstração imediata de monopólio da força, à disposição do emprego deste recurso pela nova administração desde um sentido vertical. Outra característica que se repete nas decisões formalizadas é a borrosa separação entre política doméstica e internacional; entre segurança interna e externa. Com este propósito uma ordem executiva, curta e direta, determina o pleno alinhamento do Departamento de Estado, do Departamento de Defesa e a Agência de Segurança interna (Homeland Security) à premissa de América Primeiro.
As clonadas palavras do Secretário de Estado Marco Rubio, indicaram seu estado de prontidão (uma espécie de “yes sir” com som de obediência militar) ao declarar que sua política externa atenderia a três objetivos essenciais: fazer os Estados Unidos mais fortes, mais seguros e mais prósperos. Tornar esta tripla missão no mantra da política externa americana significará deixar de lado uma atuação guiada por valores e ideais e buscar dando máxima prioridade aos interesses nacionais, em todas suas manifestações e preferencialmente aqueles vinculados ao mundo privado.
O tema migratório ganhou um sentido emblemático para a soltura da cavalaria nesta direção. A militarização da fronteira sul e a decretação de uma situação de emergência nacional implicou delegar ao Departamento de Defesa e à Guarda Nacional uma ampla responsabilidade nãos ações de contenção aos “bárbaros”. O Pentágono deverá elaborar um plano que assegure “selar as fronteiras, manter a soberania, a integridade territorial e a segurança dos Estados Unidos, repelindo todas as formas de invasão.” Assim, o que se conhece como a agenda interméstica, que domina as relações dos EEUU com o seu principal vizinho ao Sul se tornará um corolário da política de defesa e de segurança interna. Se estabeleceu também uma estreita ponte entre a securitização da política migratória de Trump e a designação de carteis de narcotráfico como grupos terroristas. As ramificações entre narcotraficantes que atuam em solo nacional e organizações criminais transnacionais- com menção a algumas de origem latino-americanas como Trém de Aragua e Las Maras Salvatrucha(MS 13)- passarão a ser alvo de ações militares para além das fronteiras. O Comando Militar do Norte, que já estende seus tentáculos até o México, deverá contribuir para dar cabo das responsabilidades que esta nova categorização envolverá.
As primeiras declarações do novo Secretário de Estado também revelam a intenção de mostrar os dentes no cenário mundial. Não é casual que o Estados Unidos tenha logo tomada a providência de se retirar de âmbitos nos quais prevalecem mesas de diálogo que prescindem da demonstração de poder militar, como o Acordo de Paris e a Organização Mundial de Saúde e mesmo algumas agências da OCDE. Na realidade, o multilateralismo em suas diversas possibilidades, é considerado um campo inútil, contraproducente e ameaçador à soberania para os novos ocupantes da Casa Branca. Em consequência deve-se esperar que os próximos quatro anos sejam de expressivos bilateralismos, sejam para escalar conflituosidade ou selar lealdades. Tratar-se-á de uma lógica binária de amigos e inimigos, parceiros e cancelados, agraciados e descartados. As ações dos EUA trumpista serão guiadas por equações estratégicas elementais, que buscarão controlar riscos por meio da coerção militar e trabalhem com resultados rápidos.
O fim das hostilidades Hamas-Israel representa um primeiro teste. Para o governo Trump é essencial que Paz e petróleo encontrem um ponto de equilíbrio beneficioso para os Estados Unidos e seus parceiros no Oriente Médio. Energia é a meta imperial, Arabia Saudita o laço bilateral estelar e Israel a ficha leal-dependente, que será bem agraciada por aceitar, mesmo a contragosto, fazer o jogo do senhor. Esta simples equação até poderá tornar factível retomar uma negociação para alcançar a solução dos dois Estados. Sempre e quando seja para tornar um terceiro mais fortes, seguro e próspero.
FOTO: RS/Fotos Públicas
FONTE: https://www.brasil247.com/blog/um-pacificador-armado-ate-os-dentes